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Dor neuropática em pacientes com HIV: onde a Cannabis entra na conversa?

A dor neuropática pode surgir em pessoas vivendo com HIV por diferentes motivos, desde a própria infecção até efeitos colaterais de alguns tratamentos. Ela costuma se manifestar como queimação, formigamento, choques e sensibilidade aumentada, podendo afetar atividades simples do dia a dia. Canabinoides como o THC e o CBD podem atuar em vias relacionadas à dor, especialmente nos receptores do sistema endocanabinoide que regulam inflamação, sinais nervosos e percepção de desconforto.

A Cannabis medicinal tem sido considerada em alguns casos como estratégia complementar, sempre com acompanhamento médico, especialmente porque pacientes com HIV podem usar diversos medicamentos, e interações precisam ser avaliadas com cuidado.

Entender essas possibilidades, limites e evidências é essencial para fazer escolhas informadas e seguras. 

O que causa a dor neuropática no HIV e por que ela é tão resistente aos tratamentos tradicionais?

A dor neuropática no HIV é multifatorial. Primeiro, o próprio vírus pode causar danos diretos aos nervos periféricos, devido à inflamação persistente e à ativação imune crônica. Mesmo em pessoas com carga viral indetectável, a resposta inflamatória sistêmica pode continuar alterando a função das fibras nervosas.

Além disso, antirretrovirais das primeiras gerações, como didanosina (ddI), estavudina (d4T) e zalcitabina (ddC),  tinham efeito tóxico significativo sobre as mitocôndrias das células nervosas, provocando lesões duradouras. Embora esses medicamentos não façam mais parte dos esquemas modernos, muitos pacientes que os utilizaram no passado podem carregar sequelas ao longo da vida.

A dor neuropática também envolve mecanismos fisiológicos complexos, como hiperexcitabilidade dos neurônios nociceptivos, aumento da liberação de glutamato, sensibilização periférica e central e ativação prolongada da microglia e dos astrócitos na medula espinhal. Como resultado, analgésicos comuns e anti-inflamatórios têm pouca ação nesses caminhos alterados. Por isso, medicamentos como gabapentina, pregabalina, antidepressivos tricíclicos e inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina são frequentemente utilizados, embora muitos pacientes alcancem apenas alívio parcial.

Como os canabinoides interagem com o sistema nervoso e por que eles interessam ao tratamento da dor neuropática?

O sistema endocanabinoide é essencial para entender o potencial terapêutico da Cannabis. Ele envolve receptores (como CB1 e CB2), endocanabinoides produzidos pelo próprio corpo e enzimas reguladoras. Os receptores CB1 estão presentes no cérebro, na medula espinhal e nos gânglios da raiz dorsal, locais diretamente envolvidos na percepção da dor. Já os receptores CB2 predominam nas células imunes e participam da modulação inflamatória.

Canabinoides da planta, como THC e CBD, se conectam a esses receptores ou modulam seus efeitos. O THC tem afinidade pelos receptores CB1, resultando em efeitos analgésicos mais diretos. O CBD atua de maneira mais ampla, influenciando receptores como 5-HT1A, TRPV1 e adenosina, reduzindo inflamação e excitabilidade neuronal.

Estudos importantes reforçam essa ação.
Abrams et al. (2007) conduziram um ensaio clínico randomizado em que pacientes com HIV e dor neuropática resistente a tratamentos convencionais usaram Cannabis fumada, demonstrando redução significativa da dor em comparação ao placebo.
Da mesma forma, Ellis et al. (2009) observaram diminuição relevante na intensidade da dor neuropática em pacientes que utilizaram Cannabis medicinal.

Essas pesquisas reforçam que, embora não seja uma solução milagrosa, a Cannabis pode atuar como moduladora das vias de dor neuropática, especialmente em casos que não respondem adequadamente aos tratamentos tradicionais.

THC, CBD e combinações: o que a ciência diz sobre suas aplicações em pacientes com HIV?

Diferentes formulações e perfis de canabinoides apresentam efeitos terapêuticos distintos. Nos estudos que analisam dor neuropática associada ao HIV, o THC tem se destacado como o principal agente com efeito analgésico direto. Ele pode oferecer alívio relevante quando outras terapias falharam.

O CBD também desempenha papel importante ao modular vias inflamatórias, diminuir a hiperexcitabilidade neuronal e auxiliar na regulação da ansiedade e do sono, aspectos frequentemente comprometidos em pessoas com dor crônica. Além disso, o CBD pode equilibrar alguns efeitos colaterais do THC, melhorando a tolerabilidade.

Extratos full spectrum, que reúnem canabinoides, terpenos e flavonoides, podem gerar sinergia (o chamado “efeito entourage”), potencializando a ação analgésica e reduzindo efeitos adversos.

A escolha entre THC, CBD ou combinações deve considerar o estado clínico do paciente, o histórico de uso de medicamentos e a sensibilidade individual, fatores importantes em pessoas vivendo com HIV.

Por que entender as evidências é essencial para decisões mais seguras

A dor neuropática relacionada ao HIV continua sendo um desafio significativo e, muitas vezes, refratário aos tratamentos convencionais. A Cannabis medicinal não substitui as terapias tradicionais, mas há evidências de que pode desempenhar papel complementar importante, modulando vias de dor, reduzindo inflamação e melhorando aspectos emocionais e funcionais associados ao quadro.

No entanto, esse uso deve ser criterioso, individualizado e acompanhado por um profissional capacitado, levando em conta interações medicamentosas, condições clínicas e a escolha adequada da formulação.

Quando usada com responsabilidade e supervisão adequada, a Cannabis pode contribuir positivamente para o alívio da dor e para uma melhora real na qualidade de vida de pessoas vivendo com HIV.

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