Mexer com água gelada ou passar frio não é frescura, é gatilho para quem convive com a fibromialgia. Fatores como baixas temperaturas e clima úmido podem intensificar os sintomas dessa condição crônica.Não é exagero. É uma reação real do corpo. É o sistema nervoso reagindo de forma diferente ao ambiente.
Por que o frio e a umidade intensificam a fibromialgia
A fibromialgia envolve algo que os cientistas chamam de central sensitization — ou sensibilização central. Isso significa que o sistema nervoso amplifica sensações, e estímulos que seriam quase imperceptíveis para outras pessoas se tornam extremamente desconfortáveis em quem tem fibromialgia. Um estudo clínico comparou limiares de dor: pessoas com fibromialgia começaram a sentir dor com o frio a apenas 25,7 °C, enquanto pessoas sem a condição suportavam até 4,5 °C .
Para entender melhor, imagine que ao cair de 25 °C para 18 °C, seu corpo já bate no “modo alarme” e a dor aparece. Isso acontece por uma combinação de fatores:
- Sensibilização central
Pacientes com fibromialgia têm níveis aumentados de substância P, um neurotransmissor relacionado à dor, e de glutamato, que aumenta a excitabilidade dos neurônios sensoriais. Isso faz com que o cérebro interprete estímulos inofensivos como ameaçadores.
Em 2004, um estudo publicado na revista Arthritis & Rheumatism mostrou que pacientes com fibromialgia têm até três vezes mais substância P no líquido cefalorraquidiano (o fluido que banha o cérebro e a medula) do que pessoas sem a condição.
- Disfunção do sistema nervoso autônomo
O sistema nervoso autônomo controla funções involuntárias do corpo, como a regulação da temperatura, o batimento cardíaco e a pressão arterial. Pessoas com fibromialgia apresentam respostas anormais a estímulos térmicos, como frio ou calor.
Um estudo de 2010, publicado no Clinical Rheumatology, observou que ao mergulhar o braço em água gelada, pacientes com fibromialgia apresentavam respostas cardiovasculares e sudomotoras desreguladas — ou seja, o corpo deles reagia de forma descoordenada ao frio, o que pode contribuir para o aumento da dor.
- Fatores climáticos
Uma revisão publicada em 2021 no Journal of Pain avaliou 17 estudos sobre sensibilidade térmica em pacientes com fibromialgia: 14 deles confirmaram que pessoas com a condição são muito mais sensíveis ao frio do que o grupo controle.
Além disso, uma pesquisa conduzida pela Universidade de Manchester, no Reino Unido, chamada “Cloudy with a Chance of Pain”, acompanhou mais de 13 mil pacientes com dor crônica e encontrou associação direta entre piora dos sintomas e clima úmido e frio.
Como isso afeta o seu dia a dia de quem tem fibromialgia?
A realidade é que situações cotidianas como lavar louça com água fria, sair no vento depois do banho ou passar um tempo em um ambiente com ar-condicionado forte, podem ser suficientes para desencadear uma crise. Os sintomas mais comuns incluem:
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Queimação na pele, como se ela estivesse em brasa;
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Rigidez muscular, especialmente nas articulações e pescoço;
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Dor profunda nas costas, pernas ou ombros;
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Sensação de choque térmico;
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Fadiga extrema, como se o corpo estivesse “desligando”.
Para muitas pessoas, a troca de estação, principalmente a chegada do outono e do inverno, é motivo de alerta. Dormir mal, acordar com o corpo travado e ter dificuldade para executar tarefas simples se torna comum.
Estratégias reais para driblar o frio
A ciência e a experiência de quem vive com fibromialgia apontam caminhos eficazes:
- Vista-se em camadas: proteja o core com roupas térmicas e sobreposições leves para isolar o corpo efetivamente
- Mantenha a temperatura ambiente controlada: evite correntes de ar e prefira ambientes estáveis termicamente.
- Use aquecedor, compressas ou bolsa térmica: aplicar calor local ajuda a relaxar a musculatura e aliviar pontos sensíveis .
- Tome banhos mornos ou quentes ao sair ao frio: traz conforto imediato e reduz o chacoalhar térmico .
- Movimente-se com regularidade: yoga, hidroginástica leve ou caminhada aquecida estimulam a circulação e modulam a dor .
- Monitore o clima: dias frios, úmidos ou com pressão baixa são mais complicados — programe atividades e prepare-se .
- Pratique técnicas de relaxamento: melhora a variabilidade da frequência cardíaca e reduz o impacto da disfunção autonômica.
Sua dor é legítima. E você merece acolhimento
A fibromialgia ainda é, infelizmente, cercada de desinformação. É comum ouvir que a dor “é coisa da sua cabeça” ou que você está “exagerando”. Mas hoje, a ciência já derrubou esse mito.
Você tem motivos reais, mensuráveis e explicáveis para sentir o que sente. A forma como o seu corpo responde ao ambiente é diferente e isso não te torna mais fraco ou sensível. Te faz humano. E merece respeito.
Linha Bisaliv
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